30 de março de 2009

Até sempre

Das inúmeras histórias que tenho do meu dia a dia e que fui perdendo a coragem de as contar, há uma pela qual me sinto na obrigação de a mostrar ao "mundo".
De tantos casos que conheço este foi o mais difícil, não sei se pelo facto de não saber lidar com o infortúnio ou se por nunca se estar preparado para tal, acredito que a cultura latina ao contrário de outros povos não saiba lidar com este problema, não falamos entre nós, se falamos fazemo-lo em sussurro e apenas o fazemos com alguém da nossa inteira confiança.
Esta é a ideia com que fiquei da história que tenho para vos contar hoje.

Circulava por entre as velhas ruas de Santarém, não sei se estava acordado se sonhava, lembro-me de ouvir o telefone tocar, do outro lado uma voz conhecida, então?, como vai isso hoje? não era um sonho, era mesmo um pesadelo, o maior que alguém pode ter na vida.

De mão no ar apressou-se a chamar o táxi, parei e disse-me:

Leve-me ao hospital
Pelo caminho as lágrimas corriam em bica, soluçava, as palavras não saiam, as mãos tremiam, um olhar de revolta ao redor de quem passava, o mundo é cruel, mas porquê? meu Deus, mas porquê?

Disse algumas palavras que mal se percebiam, entre um e outro soluço lá foi falando.

Fui fumador durante 32 anos fumava maço e meio por dia não fumo desde o dia 22 de Novembro de 2005, no dia 22 de Novembro agarrei no maço de tabaco e disse em voz alta "nunca mais fumo na vida" até ao dia de hoje nunca mais coloquei um cigarro na boca.
No dia 28 de Outubro de 2005 e por insistência dos filhos a minha mãe foi consultar um cardiologista porque não podia andar dois passos que se cansava como se tivesse andado kilometros. Começou aqui o seu calvário nesse mesmo dia e através desse mesmo médico ficamos a saber que não era coração mas sim o pulmão parado e que provavelmente estava cheio de liquido o diagnóstico não era bom e por isso seguiu para o hospital com carta de recomendação, desde esse dia e até determinada altura não parou de fazer quimioterapia primeiro através da veia, situação que a levou ao coma por não aguentar o veneno e mais tarde após ter conseguido sair desse coma a quimioterapia começou a ser oral através de comprimidos. Passado este tempo todo e após tratamentos sobre tratamentos e por graças a Deus ou a quem quer que seja (eu acreditava e neste momento ainda acredito mais, não sei se há mais alguma coisa para nos agarrarmos mas neste momentos a fé é que manda) dizia eu que com o passar de tanto sofrimento a minha mãe continuava viva e com o tumor a reduzir de tamanho, até quando não sabíamos o que sabíamos sim é que estávamos a ser postos á prova disso eu não tenho duvida. Posso adiantar que o tumor no pulmão da minha mãe é um tumor típico de um fumador... mas a minha mãe nunca na vida fumou só que teve o azar de ter perto dela 3 fumadores o marido e dois filhos.

Durante 40 longos meses a minha mãe lutou, nunca lhe vi uma queixa, nunca lhe vi uma lágrima, nunca a vi interrogar o porquê de ser ela, lutou, lutou, foi lá abaixo tantas vezes como as vezes que veio para cima

A minha mãe morreu.

Estejas onde estiveres, eu sei que estás presente.

deste teu filho que jamais te esquecerá

Luis Alexandre

28 de março de 2009

Próxima paragem

Já lá vão... uns 5 meses talvez, a razão da paragem é desconhecida, sei apenas que não me tem dado vontade de escrever as minha estórias.
Hoje ao passar aqui deu-me uma enorme vontade de entrar, deparei-me com alguns meus amigos a interrogarem-se do motivo da paragem, outros até me atribuíram um prémio, como não sou merecedor dele optei por não o colocar á vista.
Eu volto, e para que isso fique assegurado, deixo o taxímetro ligado e a contar...

24 de outubro de 2008

Quando vai a ASAE actuar nos táxis?

Tomei conhecimento através de um amigo que o blog http://puxapalavra.blogspot.com/ tinha feito um post sobre as condições deploráveis a que foi sujeito ao viajar num táxi.
Embora não seja meu objectivo confrontar ideias com clientes sobre o bom ou mau funcionamento dos táxis, achei que por uma vez podia fugir ás minhas regras e fazer referencia a esse post.
Tentei unicamente demonstrar que há bons profissionais neste sector e que motoristas de táxi são diferentes de táxistas.
O que escreveu:
Quando vai a ASAE actuar nos táxis?
Os donos dos táxis queixam-se de tudo: impostos, combustíveis, etc.
Provavelmente terão muita razão.
E eu queixo-me dos táxis. Ultimamente tenho recorrido bastante ao táxi. Desde a limpeza, a carros que não oferecem o mínimo de segurança, a motoristas a fumar quando vão vazios, ... há de tudo.
Ainda esta manhã utilizei um taxi. Saltavam -lhe as mudanças e o incómodo era visível, tanto que, a dada altura, reagi e o motorista diz-me, sabe a ASAE aqui não funciona porque senão mais de 50%, sobretudo das frotas dos grandes proprietários de táxis eram retirados do mercado pois não têm condições exactamente como este que é duma dessas frotas. "Um dia destes sou eu que chamo a ASAE" - dizia-me o taxista. Entusiasmei - o porque de facto o utente não tem de aguentar aquelas "pocilgas"
A minha resposta:
Muito boa tarde, tomei conhecimento deste seu artigo através de um fórum e de uma pessoa amiga, gostava de deixar a minha opinião apenas no sentido de defender tantos motoristas de táxi que andam por aí e que se preocupam com o bem estar dos clientes.
Sou filho de um motorista de táxi que exerce a profissão vai para 57 anos, eu próprio sou motorista á 18, sempre exerci a minha profissão em Santarém e não era capaz de o fazer numa grande cidade. Esta minha decisão prende-se apenas com o facto de gostar de ficar a conhecer quem me entra pela porta dentro, nunca me esqueço de dizer bom dia, quando me pagam digo obrigado e muito raramente me esqueço da cara do meu cliente.
Embora não consiga manter sempre a minha viatura num brilho por razões obvias, não deixo de entre cada serviço que faço dar uma vista de olhos para ver se fica alguma coisa esquecida, depois então vejo se o banco e tapetes estão em condições.
Poderá nesta altura estar a pensar que o motorista de táxi de Santarém é perfeito e que se está a armar em bom, de facto isso não acontece apenas por uma razão, em Santarém há apenas 32 táxis e ainda é uma cidade onde toda a gente conhece toda a gente, como é fácil de perceber seria mais fácil ficar sem clientes do que limpar os tapetes.
Não sei onde mora e onde ultimamente tem apanhado táxi, não sei se a ASAE tem mandado parar táxis ou não, nem sei muito bem se o podem fazer ou qual o organismo que o deve fazer, o que acontece por aqui e com alguma frequência é a PSP de Santarém quando está a fazer uma operação STOP, abrir as portas do táxi, espreitar para dentro do carro, se encontra algo que não está em conformidade manda limpar e se está mesmo fora do que é aceitável, passa a respectiva contra ordenação.
Quando apanhou o tal táxi, aquele que lhe saltava as mudanças, devia estar a ser conduzido efectivamente por um taxista e não por um motorista de táxi, pode parecer a mesma coisa mas não é, eu sou motorista de táxi porque faço e irei continuar a fazer disso o meu modo de vida tento dignificar a minha profissão o mais possível, o outro é taxista porque talvez tenha ficado sem o seu emprego e então como precisa de ganhar dinheiro, caiu de paraquedas num banco de um carro e já está, foi ordenado taxista.
Sei que é fácil ter a tendência para generalizar, sei que há bons e maus profissionais em todo o lado, sei que há inúmeras queixas sobre a minha profissão, mas caro senhor, se um dia for oportuno venha até Santarém, visite a cidade e viaje de táxi, vai ver que não se arrepende.
Um abraço
Luis Alexandre

22 de outubro de 2008

O meu companheiro

A maior parte do meu tempo é passado dentro do meu táxi, conheço todos os seus defeitos e virtudes conforme ele conhece os meus, sabe de todos os meus segredos, sabe quando estou satisfeito, quando estou triste e sabe particularmente quando eu preciso de descansar.
Como que a convidar-me a descansar, deixa-me recostar no banco preto de napa e por uns instantes deixa-me viajar ao encontro dos meus sonhos, bastam apenas 5 minutos, as viagens que faço são todas de puro prazer, quando acordo motivado pelo som do rádio que tão habilmente deixa ligado vejo que estou no meu mundo real e que estou junto do meu grande e inseparável amigo, é dono de um invejável curriculum conta já com 580000kms, por vezes queixa-se, mas também não é para menos, transporta tanta gente, alguns abrem-lhe as portas com os pés, outros fecham-nas com tanta força que oiço um gemido de dor e de preocupação.
Tento andar com ele aprumado, a carroçaria limpa os estofos e tapetes num brilho, o óleo do motor mudado a tempo e a horas, os sapatos com algum piso para não tropeçar, mas o que não consigo evitar é que algumas pessoas o tratem tão mal que de vez em quando lhe batam covardemente por trás.
Como não consigo andar com o meu inseparável amigo num estado doentio, tratei de o colocar no Sr. doutor, o seu prognóstico é bom e favorável, quinta feira já está outra vez a rolar por essa estrada fora.
Tenho saudades dele tal é a cumplicidade que temos um com o outro.

17 de outubro de 2008

Bate chapas e tinta...

Lá do alto da sua sabedoria, o povo diz:

"Há dias de manhã que um taxista á tarde não deve sair á noite"

Uma manhã cheia de sol, uma temperatura a fazer inveja a qualquer primavera, uma sexta feira com trabalho e uma folha bem apresentada.

Numa rotunda recém criada em Santarém junto ao antigo banco de Portugal o transito não se tem mostrado fácil, mas na expectativa que a reestruturação da cidade a nível rodoviário seja melhorado lá temos aguentado de tudo e mais alguma coisa.

Embora haja trabalho o que não tem acontecido ultimamente, circulo nas calmas e descontraído, afinal é sexta feira e o descanso semanal está aí à porta.
Por um motivo qualquer o transito á minha frente pára, sou forçado a imobilizar a minha viatura, estou parado, olho pelo espelho passo a mão pelo cabelo a ver se estou despenteado, abro a boca, vejo os dentes, deito língua de fora, disse para mim em voz alta, rapaz estás de boa... PUMBA ... o saúde já não o disse.


Já me f_____ o carro.

16 de outubro de 2008

É já a seguir...

Dia difícil este, cada vez mais o trabalho escasseia.
Teresa é a operadora da central, é ela que distribuiu o trabalho pelo rádio, está entre nós vai para 15 anos, santa paciência...
Nas colunas do rádio ouve-se a Teresa mandar um serviço para o ar, Portela das Padeiras nos materiais de construção.
Como estava na praça correspondente ao serviço e como me encontrava em primeiro da fila, lá respondi, demorei 4 ou 5 minutos a chegar ao local.
Já no largo do estabelecimento dirigiu-se a mim um sujeito de meia idade.

Olhe vá ali ao armazém para carregar umas coisitas.

Dirigi-me ao armazém que me indicou e parei junto a um portão verde, lá dentro um empilhador em movimento carregava uma palete de madeira, não pode ser para mim pensei.

Encoste aqui amigo.
Então... mas isto é para eu levar???
Sim sim, é para perto não se preocupe.

3 sacas de cimento
10 tijolos
2 baldes de plástico
2 caixas de azulejos


É já a seguir....

15 de outubro de 2008

Fanfarrão

Começou a Feira Nacional de Gastronomia, Santarém nesta altura fica toda engalanada pois é um certame que traz gentes de todo lado, vem gente boa, gente má e sobretudo alguns fanfarrões.
Santarém nesta altura é visitada por muita gente, uns vêem de carro outros deslocam-se em autocarros e alguns de comboio.
11.40 praça da estação, estávamos 3 ou 4 colegas a conversar e fomos "acordados" por alguém que ao sair da estação falava tão alto que pensávamos ser alguma discussão, afinal não era nada de mais, apenas um grupo de 6 pessoas e onde alguém se fazia destacar pela sua boa disposição.
Aproximaram-se dos carros e eles próprios se dividiram por dois carros, no meu carro entraram 4 barrigas exemplares, de cara redonda e de faces vermelhas lá se compuseram como puderam, aperta daqui aperta dali e todos se conseguiram sentar.
Dentro de um grupo de amigos há sempre alguém que se destaca qual bobo da corte, o tal que nos tinha "acordado" da conversa tinha que me ter calhado, de voz grossa e alta lá ia dizendo algumas baboseiras e os restantes riam AHAHAHAHAH, pareciam estar a cumprir ordens, ele falava e eles riam.
O fanfarrão, o tal bobo da corte, sentou-se ao meu lado disse-me para onde queriam ir e com ar de quem sabe tudo, virou-se para mim e com riso de sacana perguntou,

Ó patrão estamos na terra dos bois e dos toureiros, você é o quê?

Os marretas lá atrás como que ensinados a rir em sintonia, deram uma gargalhada sonora e quase que mal conseguiam respirar de tanto rir, afinal o fanfarrão estava a lixar o taxista.
Esta frase é um chavão que é conhecido, e que dito numa certa circunstancia ninguém a leva a mal, noutras alturas e dito por alguém que não tem o minimo de confiança é uma frase ofensiva.
Ainda os outros não se tinham recomposto de tanto rir e lá vinha outra vez a mesma conversa.
Podia ter entrado na brincadeira dele e dar-lhe uma resposta suave sem ter que o envergonhar, mas este fanfarrão vinha á minha terra, viajar no meu carro e gozar com a minha cara? não, decididamente que não tenho estofo para isso, ele merecia ser tratado de igual modo.

Diga lá homem, você é o quê?
Olhe nem sou uma coisa nem outra, corto os cornos dos curiosos.

Silencio absoluto, nem os marretas se riram, até chegarem ao destino o xico esperto não abriu mais a boca, pagaram, sairam e foram com a cabeça mais leve.

30 de setembro de 2008

Olhos nos olhos

7.30, estou á porta de um cliente de longa data, hoje vou leva-lo ao Algarve mais propriamente a Lagoa.
Numa tentativa de melhorar a sua situação de visão e depois da propaganda que fizeram a Cuba e aos melhoramentos que algumas pessoas conseguiram, decidiu ele também tentar a sua sorte.
Porque tem uma situação financeira estável não lhe foi concedido o mesmo que a outros, o transporte, a alimentação e a consulta pagas, em muitas camaras municipais assim aconteceu e Santarém não foi excepção.
Varadero, Fidel e charutos são palavras que estou habituado a ouvir por outras razões, mas hoje o encontro de ideias sobre Cuba tinha a ver com a sua capacidade de visão, uma vista a ver a 50% a outra a caminhar para a perda total.
Durante anos andou a ser seguido numa clínica de Lisboa, com o passar dos tratamentos que lá fez e sem recuperar quase nada veio o perder de todas as esperanças, hoje tinha outra vez motivo para se animar e quem sabe de voltar a ler um simples jornal ou mesmo perceber as imagens transmitidas por uma televisão.
O seu estado de ansiedade era tanto que sentado ao meu lado inclinava-se para a frente a tentar perceber em que sitio estávamos, perguntava várias vezes as horas e quantos kms faltavam.
A consulta era ao meio dia em Lagoa, aconselhado por mim a sair por volta das 9 horas pois 3 horas de viagem chegavam perfeitamente, preferiu sair ás 7.30, compreendi perfeitamente este estado de nervosismo, estava apenas a meia dúzia de horas e a 320 km de distancia de saber se podia ou não ir a Cuba.
Portagem de Paderne.

Estamos quase Luis!!
Estamos sim Sr. Rafael, faltam pouco mais de 20 kms


Notei que a sua voz saiu embargada e que os seus olhos tinham uma ligeira humidade, deixava perceber que estava emocionado.
Parque Empresarial de Lagoa em frente á Fatacil, uma parede branca com umas letras a azul era ali o nosso destino, I-QMED.
Apressou-se a sair, dei a volta ao carro e agarrei-me ao seu braço, dirigimo-nos á entrada e fomos recebidos por uma senhora com sotaque mas num português muito bem articulado.

O Sr. é...?
Muito mais calmo lá disse o seu nome e de onde vinha.
Chegou muito cedo e o Dr. ainda não está cá, a sua consulta é só ao meio dia, são apenas 10.40.
O Dr. Versteeg acabou por chegar e com ele a hora da consulta, todas as expectativas, todos os seus sonhos estavam na mão daquele homem.
Cá fora esperando pelo fim da consulta fui vendo algumas pessoas saírem, uns de olhos tapados outros de óculos escuros mas todos com a esperança de ver muito melhor.
13.40, fui chamado pela senhora que nos tinha recebido, mandou-me seguir em frente e cortar á direita.
Senti-me nervoso, penso até que fiquei com medo de o ir buscar.
Estava ali á minha frente e tinha uma expressão de dor e de angustia, não perguntei nada e mantive-me em silencio, de cabeça baixa e novamente com a voz embargada disse o que eu não esperava ouvir.

"não há nada a fazer Luis"

Pediu-me apenas se não me importava de parar só em casa, fomos com alegria e expectativa, regressamos com a certeza que mais tarde ou mais cedo o que ele mais temia iria por acontecer, a cegueira.

24 de setembro de 2008

Tristeza

Se apanho alguns serviços que me dão vontade de rir pelo caricato da situação, outros há que me dão vontade de gritar em sinal de protesto e revolta.
Pela manhã apanhei um serviço daqueles que ninguém consegue passar indiferente, transportei uma mulher que por falta de condições monetárias ia entregar a sua filha ao lar da Santa casa da Misericórdia.

Será que alguém merece ser afastado da sua família por falta de dinheiro?


Não sei, não quero e nem consigo imaginar o que me custaria afastar de um filho meu.

19 de setembro de 2008

O troco






O transito estava complicado, talvez por ser sexta feira e ainda para mais hora de ponta, o relógio do meu carro marcava 8h15m.
Depois de começar ao trabalho bem cedo e já com alguns serviços efectuados, eis que me entra no carro uma rapariga bem vestida, cheirosa e sobretudo bonita, leve-me à zona industrial à DET (Desenvolvimento Empresarial Tecnológico) coloquei o carro a trabalhar iniciei a marcha mas não consegui evitar uma olhadela pelo espelho retrovisor, era de facto bonita, foi-me difícil desviar o olhar e concentrar-me na estrada.
Hoje ainda chove minha senhora, disse-lhe, não foi muito original mas foi uma tentativa honesta de a pôr a falar comigo.
É capaz, da maneira que está o céu ainda hoje caiem alguns pingos, respondeu-me, mais uma frase original e... toca a porcaria do telemóvel.
Do outro lado pelo que percebi era alguém que estava num patamar superior ao seu, talvez o "manda chuva", não o que hoje iria fazer chover mas o patrão, trocaram alguns comentários falaram de negócios, de dinheiros, de vendas.
A DET estava ali mesmo á frente e a minha hipótese de lhe arrancar mais algumas palavras acabava ali, parei o carro desliguei o taxímetro e fazendo um movimento ligeiro olhei para trás para a admirar mais uma vez e disse-lhe, são 4.70€ , rebuscando na sua carteira, apanhou uma nota de 5€, olhe fica assim e passe-me uma factura de 15€.
Não sei se demorei muito se pouco tempo a reagir, não consegui dizer quase nada porque estava mesmo parvo com a situação, a senhora bem vestida, cheirosa e bonita afinal não passava de mais uma pessoa comum, queria ganhar o dia á conta do taxista que tinha ficado de beiço pendurado com tamanha beleza.
Quinze euros? a senhora não acha que isso é demais? Não se preocupe, que eles pagam.
E eu lá estava preocupado se "eles" pagavam, eu estava era a sentir-me usado, abusado e sei lá mais o quê, ela iria ganhar mais numa simples factura do que eu a fazer o meu serviço.
Os seus colegas não têm problema nenhum em me passar a factura, pois..., eu também não tinha, bastava escrever 15 em vez de 5, mas queira desculpar que eu não o vou fazer, acho que é uma quantia muito elevado para o tipo de serviço que acabei de fazer.
Então despache-se lá a passar-me a factura que tenho mais que fazer.

Sinceramente que me apeteceu rir, até aqui falava que nem uma princesa, agora tinha acabado de mostrar o que realmente era, não ri mas apressei-me a passar a factura dos 5 euros e sem dizer mais nada dei-lha a factura e virei-me para a frente.

Então o troco?
O troco? qual troco?
Não eram quatro euros e setenta?


O que se diz a uma pessoa numa altura destas? eu não ficava mais rico por ela me dar os 30 cêntimos de gorjeta, ela não ficava mais pobre por mos ter dado, mas bastou não lhe fazer a vontade para ser o pior taxista ao cimo da terra.

Esta vida não é fácil.

13 de setembro de 2008

Ao ver a lista



Ao ver a lista, é uma expressão que me fui habituando a ouvir cada vez que passa o cauteleiro que frequenta a praça de táxis. Nunca percebi muito bem o significado deste dito, ontem e no fim de tantas interrogações decidi perguntar ao Amilcar cauteleiro o que queria dizer o " Ao ver a lista" .
Entre uma e outra cautela vendida aos taxistas que tentam a sua sorte, lá me foi explicando que o "ao ver a lista" era uma expressão utilizada por ele e por outros antigos vendedores da sorte para anunciar que tinha a lista dos premiados de lotarias anteriores.
Já dei duas vezes a grande, e segundos prémios já não há conta, disse-me a sorrir, alguém lá do fundo e no mesmo tom com que ele apregoava a sorte, gritou, olhó ó vigarista, mais uma que se ouvia frequentemente cada vez que ele passava , não me incomoda, afinal só compra quem tem dinheiro e os tesos ficam-se pela conversa.
Tá tudo branco dizia outro, branco tás tu que não apanhas sol
, entre os mimos que se ouviam de parte a parte, o que é certo é que vendia jogo que nunca mais acabava, alguns dos que compravam já tinham números certos, para esses já nem era preciso alicia-los, toma lá dá cá, ía a cautela e vinha o dinheiro para o seu bolso.
Num olhar ameaçador como que fosse uma obrigação comprar-lhe uma cautela, perguntou-me, atão e tu? eu não jogo, fico-me pela sorte dos meus colegas. Não tardou que me presenteasse com um poema.

tu que não compras uma cautela
só te posso dizer o seguinte
tira-me essa farpela
porque não passas de um pedinte


Improvisado ou já pensado o que é verdade é que havia poemas para todos os gostos, para quem comprasse, para quem passava e lhe mandasse bocas e até para mim que só quis saber o que queria dizer,
"Ao ver a lista".

A todos os vendedores de sonhos que andam por aí, um grande abraço.


8 de setembro de 2008

Próxima paragem

Estava em pé no meio do passeio à espera do próximo cliente, a rádio na TSF como habitualmente informava que havia médicos a limpar 2500€ por dia em hospitais públicos... estudasses... pensei para comigo.
Mais alguns minutos de espera e um casal de meia idade dirige-se a mim, queriam passar no Hotel Santarém para depois seguirem para almoçar.
Abri a porta de trás, sentaram-se, dei a volta ao carro, liguei o taxímetro e iniciei o trajecto até ao local que me indicaram, pelo caminho uma breve conversa sobre o tempo, sobre as obras que se fazem sentir na cidade e de onde vinham. Fiquei a saber que eram de Chaves, estavam na cidade ia para dois dias e ficavam mais dois.
Queriam saber onde era a Igreja do Santíssimo Milagre e se valia a pena conhecer, disse que sim e que pela quantidade de pessoas que vinham visitar devia ser um local a não perder.
Deve ser um local a não perder? perguntou a senhora, mas então o sr. não conhece?
Bonito trabalho, e não é que não conheço mesmo, algum silencio da minha parte interrompido apenas com um "deixe-nos no hotel que depois pedimos para alguém nos levar" o resto do caminho foi feito com o pensamento no Santíssimo Milagre e como é que um nascido e criado na terra não conhece a sua história?
Próxima Paragem, Santíssimo Milagre

7 de setembro de 2008

Arre burro

Pode pensar-se que irei falar de táxis, mas não, vou falar de burros, melhor, vou falar de burros de táxis, de blogs e do meu reaparecimento (vamos a ver se é desta).
Mijas, é um pueblo Espanhol que fica situado na Costa del Sol tem como atracção principal os burrostáxis, meus colegas portanto.
De todos os táxis do mundo estes são sem duvida os táxis mais económicos, "Gasóleo não precisam, oficina nem falar! ..." não sofrem com a crise do petróleo, não têm que ir à inspecção, e o que poluem é devidamente aproveitado para embelezar os jardins lá do sitio.

O burro nunca foi tão utilizado como agora, e se algum dia esteve em vias de extinção as variadíssimas formas de utilizar o seu nome, fizeram com que esses dias já fizessem parte da história.
Podemos encontrar o burro em vários sítios na internet mas aqueles que mais me surpreenderam foi a quantidade de blogs que fazem do burro o ícone principal.

http://opaisdoburro.blogspot.com/
http://arremacho.blogspot.com/
http://entramula.blogspot.com/
http://orgulhoburriqueiro.blogspot.com/
http://jumento.blogspot.com/
http://souburro.blogspot.com/
http://coisas-do-burro.blogspot.com/
http://vozesdeburros.blogs.sapo.pt/
Estes são alguns dos tais "burros" que encontrei sem dificuldade, outros mais andarão por aí e outros tantos terão tendência a aparecer, é sem duvida um animal a venerar já que dá a tanta gente a vontade de escrever.

Por fim o meu rereaparecimento, é verdade que já vim, já fui, voltei a ir e desta vim para ficar, até me ir embora outra vez...
Como tenho um aliado de força, O Burro, talvez me aguente cá mais tempo quanto mais não seja para ver outros burros a olharem para mim.
Para que a coisa funcione de vez comprei outro carro, desta vez vou ganhar dinheiro a sério, vou conseguir fugir aos impostos, a não ser que o governo me vá cobrar impostos da merda que o meu carro faz, desculpem do meu burro.

29 de março de 2008

O Táxi

O táxi, propriamente dito, apareceu historicamente quando foram aplicadas taxas à sua utilização através de taxímetros. Contudo, o serviço de transportar pessoas numa grande cidade a qualquer pessoa que o solicite é quase tão antigo como a civilização. O primeiro serviço desse género apareceu com a invenção do riquexó carro de duas rodas puxado por um só homem. Existia, embora em pouca abundância, nas principais cidades da Antiguidade, mas era exclusivo das elites, que possuiam escravos para puxar esses carros.
Nas ruas da Roma Antiga, circulavam liteiras transportadas por dois ou quatro escravos que levavam quem quer que os solicitasse. Essa pessoa teria de pagar apenas o preço previamente estipulado pelo amo desses escravos. Apesar de já existirem veículos com rodas, os "táxis" romanos não os utilizavam devido às movimentadas vias de comunicação da metrópole.
Depois da Queda do Império Romano do Ocidente, os carros e carruagens começaram a desaparecer das grandes metrópoles, tal como a sua população, que foi para o meio rural à procura de subsistência. Este acontecimento ditou o fim dos serviços de transporte público e privado.
Na Idade Média o transporte de pessoas era assegurado por carruagens muito rudimentares de tracção animal, que no Renascimento foram melhoradas tendo sido acrescentados ornamentos, cobertura e até cortinas. Em 1605, apareceram em Londres as primeiras carruagens de aluguer — as hackney. O sucesso foi tanto que, em 1634, o elevado número de carruagens de aluguel fazia com que as principais ruas da metrópole ficassem completamente engarrafadas, o que levou o Parlamento a limitar o número de carruagens a circular. Mas não só em Londres havia problemas de tràfego por causa de carruagens de aluguer; também em Paris, primeiro os corbillards e depois os sociables, fizeram um estrondoso sucesso no séc. XVII. Já nos finais do mesmo século, surgiram na Alemanha os inovadores landau e os landaulet (versão reduzida do Landau). Posteriormente, no séc. XVIII, foi criado o gig em França, que deu origem ao tilbury em Inglaterra e posteriormente ao cabriolet. No séc. XIX já qualquer grande cidade tinha centenas, ou mesmo milhares de carruagens de aluguer.
Os primeiro táxis motorizados apareceram em 1896 na cidade alemã de Estugarda. No ano seguinte, Freidrich Greiner abriu uma empresa concorrente, na mesma cidade, mas os seus carros estavam equipadas com um sistema inovador de cobrança — o taxímetro. A implantação dos táxis foi generalizada em 1907. Nesse mesmo ano, em Paris, todos os carros de aluguel tinha de possuir um taxímetro obrigado por lei. Antes da Primeira Guerra Mundial já todas as grandes cidades europeias e americanas tinham serviço de táxis legais e pintados com esquemas de cores diferentes. Desde então as alterações foram poucas, apenas nos aparelhos possuídos pelos carros, tais como um rádio, ou ar condicionado.

26 de março de 2008

Guadalupe

8.25, chamada ao hotel Santarém, dentro do hall sai uma senhora já com alguma idade, 60 anos talvez, bem vestida e muito melhor pintada, olá, disse numa voz firme e com sotaque, e viva el España pensei, nem me vou atrever a escrever o portunhol que utilizei que me percebeu sempre disso não tenho duvidas.
Sem fazer nenhuma intenção de falar português, perguntou-me quanto lhe levava de fazer uma viagem pela cidade.
Igreja de Marvila, Igreja da Graça, Igreja do Milagre, Portas do Sol, 3 horas passadas e uma etapa concluída. Acompanhei a senhora, de seu nome Guadalupe pelos jardins das Portas de Sol, lá fiz o papel de pessoa interessada e conhecedora da história de Portugal e mais concretamente da história de Santarém, expliquei o melhor que sabia e seguiu-me sempre bastante atenta, não fez muitas perguntas o que jogou a meu favor.
Já perto do meio dia, perguntou-me se a levava a comer e de preferência a um restaurante típico, prontifiquei-me a levar a nuestra hermana á melhor tasca de Santarém, a taberna do Quinzena foi a escolhida... já de fronte á "tasca" disse-me para a acompanhar no almoço, acedi agradecendo o convite, magusto com peixe frito foi o nosso almoço, não sei se realmente gostou mas pelo menos foi educada, comeu e no fim disse que tinha gostado.
Novamente dentro do carro perguntei se a levava de volta ao hotel, que no, estava um bonito dia e não se ia quedar pelo hotel, queria continuar a visita por Santarém e sem nenhuma pressa.
Mais uns monumentos, mais umas quantas igrejas mais umas quantas conversas pessoais e a viagem estava a chegar ao fim, não havia muito mais para mostrar nem para dizer.
Pagou-me agradeceu o excelente dia que tinha passado, e que quem sabe se não me chamaria de novo, desta vez para lhe mostrar outra cidade.
Poderia ter sido apenas mais um cliente no fim de mais um dia de trabalho, mas pela sua simplicidade, elegância e pelo excelente dia que também a mim me proporcionou, mostrando que não há barreiras entre um simples motorista de táxi e um cliente merece que a tenha lembrado neste espaço.
Guadalupe uma verdadeira senhora, Espanhola.

22 de março de 2008

Um regresso não anunciado



Resolvi reeditar este meu espaço, desta vez estarei imune a algumas pessoas, espero que o tempo que este blog esteve out of service tenha dado para se perder nos favoritos de algumas pessoas.
Volto porque tenho saudades, volto porque preciso de voltar, volto porque, porque...
Volto da mesma forma que era, talvez um pouco mais cansado, volto sobretudo para me envolver com o meu dia a dia, contar as dificuldades e os egoismos do quotidiano, volto.

24 de janeiro de 2007

Uma bolsa de mão, uma vida

De dia para dia, o trabalho vai reduzindo drasticamente, não sei se por culpa das festas de Dezembro, se pelo facto das pessoas estarem a adivinhar tempos difíceis.
O trabalho, esse, resume-se aos clientes habituais, alunos, professores, bancários e outras pessoas de fora, há muito que não aparece um serviço para longe, daqueles que enchem a carteira.
Quarta feira, o pior dia da semana, sou chamado via rádio a uma rua no interior da cidade, a parte antiga de Santarém é habitada na sua maior parte, por gente já com alguma idade, são os resistentes, são estas pessoas que sabem todas as histórias de uma cidade, são eles que fazem com que não se perca a identidade de uma cidade antiga como Santarém.
Chego ao local indicado e apercebo-me de um grande alarido, um carro da PSP, parado no meio da rua faz com que o transito não se aproxime, um agente desvia os carros para outra rua, quando chega á minha vez peço-lhe para me deixar ir buscar o serviço ao n.º 32, acede ao meu pedido, mas adianta que é ali que há confusão. Um outro agente, para que a ambulância inicie a sua marcha afasta as pessoas que entretanto ali se juntaram, já mais desimpedida a rua, consigo ver uma mulher lavada em lágrimas e completamente derrotada, algumas pessoas tentam-na reconfortar, avistou o táxi e depressa se abriu a porta, num soluçar tremendo pediu-me para seguir a ambulância até ao hospital, pelo outro lado entrou uma vizinha, ao tentar aliviar a dor da sua amiga, disse-lhe que tudo iria correr pelo melhor, foi nesta altura que ouvi o que até agora ainda me está a incomodar, num gemido de dor e de revolta, articulou quatro palavras, ele já vai morto…. é difícil conviver com este tipo de situações, eu particularmente não sei o que dizer, se fico calado tenho medo de mostrar indiferença, se digo alguma coisa posso fazer com que a dor seja mais violenta. Ai aquele malandro matou o meu homem, repetiu isto varias vezes até chegarmos ao hospital, preferi ficar calado e fui o mais rápido possível, quando cheguei ao hospital já os bombeiros tinham entrado nas urgências, num passo acelerado e sem pedir autorização entrou lá para dentro.
Curioso, perguntei depois á vizinha o que tinha acontecido, o marido da amiga tinha sido alvo de assalto, quando tentou que não lhe roubassem a bolsa de mão, e enfrentando o que parecia ser um drogado, escorregou e bateu violentamente com a cabeça no portal da porta.
Soube depois, algumas horas mais tarde que não resistiu ao embate e acabou por falecer.

A vida é tão ingrata.
No que nós nos estamos a tornar ?

20 de janeiro de 2007

Tudo está bem, quando acaba em bem.

Andava eu por aí a palmilhar kilometros, e em determinado local, um carro que estava estacionado no meio da rua, impedia o trânsito, um qualquer condutor que queria avançar para ir trabalhar, porque nem só de pão, vinho e espectáculos de circo vive uma pessoa, que é como quem diz, trabalhar enaltece…, abriu a janela e gritou para o condutor que estava parado alguns impropérios, que eu não me atrevo a repetir porque se o fizesse ainda vinha a minha avózinha e lavava-me a boca com sabão que é como quem diz, chamava-me a atenção.
O homem gritava e o outro não lhe ligava nenhuma limitando-se a responder-lhe, os cães ladram e a caravana passa, que é como quem diz, fala fala, que não te dou cavaco nenhum. Nisto, o outro deixando de gritar, começou a repetir-lhe nervosamente um qualquer insulto na esperança que ele se fosse embora, porque água mole em pedra dura tanto bate até que fura, que é como quem diz, a persistência compensa.
O Homem que estava interromper o trânsito, já incomodado, disse, é melhor que te cales porque há três coisas na vida que nunca voltam atrás, a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida, que é como quem diz, vale mais pensar bem antes de se dizer qualquer coisa.
O homem chateado não se conteve e gritou: Não vá o sapateiro além dos sapatos, que é como quem diz, não metas a foice em seara alheia. E o outro calmamente limitou-se a responder, longa viagem começa por um passo, que é como quem diz, devagar se vai ao longe, ou até, que depressa e bem, não há a quem.
O trânsito acumulava-se, havia já uma longa fila de gente que buzinava, o homem que estava mais irritado que nunca, estava agora fora do carro e aproximava-se do outro ainda estacionado no meio da rua, gesticulando para ele e gritando, o homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute, que é como quem diz que já tinha dado para aquele peditório e que estava farto de estar a discutir.
O transgressor continuava estacionado e ignorava o mal que causava porque com o mal dos outros podia ele bem, que é como quem diz, era um egoísta.
O homem irritado agora perigosamente, perto da janela do carro estacionado gritou-lhe, vai para o cara..., que é como quem diz, vai morrer longe…, e… ele foi.

18 de janeiro de 2007

Bué, cenas, cota, ya

Chamada à Escola Superior Agrária, anteriormente conhecida como, Escola de Regentes Agrícolas, quatro raparigas surgem do bloco de aulas. Há 30 anos atrás, era impensável que tal acontecesse, mulheres só mesmo as senhoras da limpeza, os alunos esses, tinham carisma e eram vistos como gente nobre, vestiam de ganga, jaqueta e calças azuis, completada por uma bota Ribatejana, o salto, tinha que ser de prateleira e de vira fina, as suissas bem aparadas, e o ar jingão, faziam que toda a gente reparasse neles.
Estação, indicou a rapariga que se sentou ao meu lado, viagem curta, 5 minutos se tanto, mas não suficiente curta para ter que ouvir uma quantidade de barbaridades.
Eia meu, que cena…., o cota passou-se ca gaja, ya dizia uma lá atrás, ficou mesmo agarrado… mas tu viste-me aquela cena da Sara? Fonix meu, é preciso ter coragem… ya, ouviu-se outra vez, mas meu aquela cena é bué da difícil, ya é bué mesmo.
Ainda não tinham dito nada com pés e cabeça, Bué, cenas, cota, ya, se levasse miúdos do ensino básico, ainda vá que não vá, agora estudantes de cursos superiores?
Nunca fui de acordo nem achei muito bem o rótulo de Geração Rasca, mas cuidado paizinhos, a tradição já não é o que era …

16 de janeiro de 2007

Very Important Person

No rescaldo de mais um dia e esperando pelo ultimo cliente de uma terça feira simpática, alinho-me atrás de três ou quatro carros na estação da CP.
A gare de qualquer estação, é um lugar privilegiado para observar as caras de quem ao fim de um dia de trabalho ali chega, tento adivinhar os pensamentos daquelas gentes, alguns mostram tamanha revolta que até o mais distraído consegue perceber, professores, alunos, operários, executivos, administradores, engenheiros doutores ou simplesmente pessoas que andam a passear, dão um colorido ao corredor que antecede o pequeno largo de calçada portuguesa, cá fora e habilmente perfilados, os táxis, como que a convidar para serem utilizados, mantêem as lanternas acesas, a luz verde indica qual o táxi a sair.
As pessoas ordeiramente aguardam a sua vez, os primeiros carros vão abandonado a fila, consigo perceber qual o serviço que me vai calhar, vejo um homem de barba branca e impecavelmente vestido, reconheço-o automaticamente, já o tinha visto chegar á estação várias vezes, nunca tinha tido o prazer de o transportar.
Num passo largo e decidido, como que a fugir de alguém, aproximou-se do carro, abriu a porta e recostou-se, decididamente não quer ser reconhecido, pensei. Uma voz calma e segura ditou a ordem, para a Vila da M…….. se faz favor, a sua figura parece um pouco diferente, na televisão parece mais pequeno, mais forte e com menos cabelo, talvez seja da gabardina creme que veste, mas o que é verdade é que parece outra pessoa, mas não há duvida é mesmo ele.
Sou um ouvinte e leitor assíduo do que escreve e diz, das formas geométricas que aprendi, as que mais me marcaram, foram efectivamente o quadrado e o circulo, quando andava no Liceu, e que me era dada a conhecer a história de Portugal e os seus navegadores, ouve um que me marcou positivamente, talvez pela sua participação no tratado de Tordesilhas, ficou ainda conhecido pelo “Esmeraldo”, talvez venha dai a minha admiração e a minha assiduidade ao que escreve.
Vou pelo caminho, e vem-me á ideia de lhe falar no meu Blog, afinal temos algo em comum, somos os dois blogueiros, quem sabe se me poderia dar algumas dicas de bem escrever… ou talvez até fazer publicidade no seu espaço, claro que seria uma mais valia para ele, não é todos os dias que se conhece um taxista blogueiro.
Fui acordado do meu sonho, a tal voz calma e segura, ouviu-se para me dar uma indicação. No largo em frente á Caixa de Credito Agrícola, corta à esquerda e logo de seguida à direita. Fui dar a uma pequena ruela, ao fundo um beco, foi lá que parei o carro, apressou-se a pagar-me e quando já ia a sair e para que soubesse que não me tinha passado ao lado, disse-lhe, boa noite sôtor, muito obrigado, já fora do carro deu uma volta e retribuiu, Boa noite para si também, e boa viagem, ainda não tinha acabado de dar a minha gargalhada interior, e surpreendentemente ouviu-se, Obrigado pelo seu silencio, não imagina como é bom pensarmos que conseguimos passar despercebidos, foi uma viagem muito agradável, boa noite.

Omiti o seu nome, por razões obvias, quem teve atento, decerto perceberá de quem se trata.