24 de janeiro de 2007

Uma bolsa de mão, uma vida

De dia para dia, o trabalho vai reduzindo drasticamente, não sei se por culpa das festas de Dezembro, se pelo facto das pessoas estarem a adivinhar tempos difíceis.
O trabalho, esse, resume-se aos clientes habituais, alunos, professores, bancários e outras pessoas de fora, há muito que não aparece um serviço para longe, daqueles que enchem a carteira.
Quarta feira, o pior dia da semana, sou chamado via rádio a uma rua no interior da cidade, a parte antiga de Santarém é habitada na sua maior parte, por gente já com alguma idade, são os resistentes, são estas pessoas que sabem todas as histórias de uma cidade, são eles que fazem com que não se perca a identidade de uma cidade antiga como Santarém.
Chego ao local indicado e apercebo-me de um grande alarido, um carro da PSP, parado no meio da rua faz com que o transito não se aproxime, um agente desvia os carros para outra rua, quando chega á minha vez peço-lhe para me deixar ir buscar o serviço ao n.º 32, acede ao meu pedido, mas adianta que é ali que há confusão. Um outro agente, para que a ambulância inicie a sua marcha afasta as pessoas que entretanto ali se juntaram, já mais desimpedida a rua, consigo ver uma mulher lavada em lágrimas e completamente derrotada, algumas pessoas tentam-na reconfortar, avistou o táxi e depressa se abriu a porta, num soluçar tremendo pediu-me para seguir a ambulância até ao hospital, pelo outro lado entrou uma vizinha, ao tentar aliviar a dor da sua amiga, disse-lhe que tudo iria correr pelo melhor, foi nesta altura que ouvi o que até agora ainda me está a incomodar, num gemido de dor e de revolta, articulou quatro palavras, ele já vai morto…. é difícil conviver com este tipo de situações, eu particularmente não sei o que dizer, se fico calado tenho medo de mostrar indiferença, se digo alguma coisa posso fazer com que a dor seja mais violenta. Ai aquele malandro matou o meu homem, repetiu isto varias vezes até chegarmos ao hospital, preferi ficar calado e fui o mais rápido possível, quando cheguei ao hospital já os bombeiros tinham entrado nas urgências, num passo acelerado e sem pedir autorização entrou lá para dentro.
Curioso, perguntei depois á vizinha o que tinha acontecido, o marido da amiga tinha sido alvo de assalto, quando tentou que não lhe roubassem a bolsa de mão, e enfrentando o que parecia ser um drogado, escorregou e bateu violentamente com a cabeça no portal da porta.
Soube depois, algumas horas mais tarde que não resistiu ao embate e acabou por falecer.

A vida é tão ingrata.
No que nós nos estamos a tornar ?

8 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite!

Só agora descobri um irmão gémeo de «o fogareiro». Parabéns e... força amigo!
Preciso de tempo para ler os posts. Vou ficar atento.

Um abraço

Manuel Sequeira

Anónimo disse...

Mas que grande escritor que este meu amigo me saiu!;) Força nisso companheiro! Tens a veia artística... continua!

Elso Lago disse...

Não nos estamos a tornar em nada que já não fossemos desde há séculos. Um animal bárbaro, que ao instinto de sobrvivência próprio de todos os animais, ainda juntamos a racionalidade que nos permite ser infinitamente maus.

Elso Lago disse...

Já agora, vejo pelo video que também gostas de Knopfler! Foste ao concerto dele no Pav. Atlântico em 2001?

Anónimo disse...

E os textos? Acabaram?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Unknown disse...

Venho aqui todos os dias, mas o que se passa?
Não há mais estórias?
Um abraço
Helena

Anónimo disse...

Situação complicada. O melhor mesmo nesses casos é o silêncio.
Há braços!!