De tantos casos que conheço este foi o mais difícil, não sei se pelo facto de não saber lidar com o infortúnio ou se por nunca se estar preparado para tal, acredito que a cultura latina ao contrário de outros povos não saiba lidar com este problema, não falamos entre nós, se falamos fazemo-lo em sussurro e apenas o fazemos com alguém da nossa inteira confiança.
Esta é a ideia com que fiquei da história que tenho para vos contar hoje.
Circulava por entre as velhas ruas de Santarém, não sei se estava acordado se sonhava, lembro-me de ouvir o telefone tocar, do outro lado uma voz conhecida, então?, como vai isso hoje? não era um sonho, era mesmo um pesadelo, o maior que alguém pode ter na vida.
De mão no ar apressou-se a chamar o táxi, parei e disse-me:
Leve-me ao hospital
Pelo caminho as lágrimas corriam em bica, soluçava, as palavras não saiam, as mãos tremiam, um olhar de revolta ao redor de quem passava, o mundo é cruel, mas porquê? meu Deus, mas porquê?
Disse algumas palavras que mal se percebiam, entre um e outro soluço lá foi falando.
Fui fumador durante 32 anos fumava maço e meio por dia não fumo desde o dia 22 de Novembro de 2005, no dia 22 de Novembro agarrei no maço de tabaco e disse em voz alta "nunca mais fumo na vida" até ao dia de hoje nunca mais coloquei um cigarro na boca.
Durante 40 longos meses a minha mãe lutou, nunca lhe vi uma queixa, nunca lhe vi uma lágrima, nunca a vi interrogar o porquê de ser ela, lutou, lutou, foi lá abaixo tantas vezes como as vezes que veio para cima
A minha mãe morreu.
Estejas onde estiveres, eu sei que estás presente.
deste teu filho que jamais te esquecerá
Luis Alexandre